terça-feira, 8 de março de 2011

O Mulato de Aluísio Azevedo

O Mulato de Aluísio Azevedo
Estudo por
Frederico Barbosa Biografia por Sylmara Beletti
INTRODUÇÃOParte superior do formulário
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Com a publicação de O Mulato, em 1881, Aluísio Azevedo introduz o Naturalismo na literatura brasileira e faz uma crítica anticlerical e anti-racista da sociedade provinciana do Maranhão. No mesmo ano em que Machado de Assis inaugurava, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, o Realismo nas letras brasileiras, Aluísio Azevedo publicava O Mulato, obra inaugural do Realismo-naturalismo no país. Em seu segundo romance, o escritor maranhense realiza uma impiedosa crítica social através da sátira dos personagens típicos de São Luís. Os comerciantes grosseiros, as senhoras de escravos sádicas, as velhas beatas e fofoqueiras e o padre sedutor, maquiavélico e assassino são apenas alguns exemplares de uma sociedade apodrecida e racista. Ao se inspirar em pessoas de São Luís que de fato conhecia, Azevedo despertou a ira da sociedade maranhense e, embora louvado por críticos do Rio de Janeiro, teve que sair da sua cidade
natal temendo maiores represálias.
No anticlericalismo evidente da obra, há ecos do Crime do Padre Amaro (1875) de Eça de Queirós, até então o maior expoente do Naturalismo na língua portuguesa.
No entanto, a obra ainda apresenta alguns resíduos românticos. Aluísio Azevedo, na reta final da campanha abolicionista, idealiza a figura do mulato
Raimundo, que pouco retém, na pele, das suas origens negras – “grandes olhos azuis, cabelos pretos e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina" – e é moralmente impecável. A trama central repete o estereótipo romântico do amor que luta contra o preconceito e as proibições familiares.
O REALISMO
O Realismo significou a aparição de uma série de temas novos, mas, sobretudo, uma maneira diferente de entender a literatura. O subjetivismo romântico foi substituído pela descrição da realidade externa. O escritor realista desejava retratar a realidade tal como era, sem deixar de lado nenhum aspecto, por mais desagradável que fosse. A base do romance realista é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Através dos personagens, abordavam-se conflitos sociais: entre a burguesia e o proletariado, entre a sociedade urbana e a sociedade rural, entre a ideologia conservadora e a liberal e progressista. Os personagens eram estudados em detalhe. O Realismo-naturalismo aparece por volta de 1870 como uma derivação do realismo. Recebeu profunda influência de algumas das teorias e doutrinas que estavam no auge naquele momento, sobretudo do materialismo e do determinismo. O Naturalismo considerava a vida do homem resultado de fatores externos (raça, ambiente familiar, classe social, etc.). Influenciado pelas ciências experimentais, o escritor naturalista tentava demonstrar, com rigor científico, que o comportamento humano está sujeito a leis semelhantes às que regem os fenômenos físicos. Se o realismo pretendia ser objetivo e imitar a realidade, o Naturalismo desejava fazer uma análise histórica, social e psicológica da realidade, um estudo profundo
a partir de uma ampla documentação prévia.
O Realismo-naturalismo, cujo marco inicial no Brasil é O Mulato, é cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para isso, o Naturalismo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos repugnantes e grotescos.
O MEIO
O romance O Mulato se abre com a descrição nada elogiosa da cidade de São Luís do Maranhão: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.”
É nessa atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social, que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de letargia preguiçosa: “Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos.” O mal cheiro domina o ambiente: “Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente.” A grosseria do ambiente envolve as ações das personagens: “O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço (…) as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.”
Note-se que, se os cães “tinham uivos que pareciam gemidos humanos”, as peixeiras, animalizadas, têm “tetas opulentas”. Homens e animais se misturam, portanto, no universo bestializado e asfixiante de São Luís do Maranhão.
A CASA DE MANUEL PESCADA
Em seguida, o narrador apresenta a casa de Manuel Pescada, “um português de uns cinqüenta anos, forte, vermelho e trabalhador. Diziam-no afilado para o comércio e amigo do Brasil. Gostava da sua leitura nas horas de descanso, assinava respeitosamente os jornais sérios da província e recebia alguns de Lisboa. Em pequeno meteram-lhe na cabeça vários trechos do Camões e não lhe esconderam de todo o nome de outros poetas. Prezava com fanatismo o Marquês de Pombal, de quem sabia muitas anedotas e tinha uma assinatura no Gabinete Português, a qual lhe aproveitava menos a ele do que à filha, que era perdida pelo romance.” É essa filha, Ana Rosa, leitora ávida de romances, como a Emma Bovary, de Flaubert, ou a Luísa do Primo Basílio, de Eça de Queirós, que Manuel Pescada quer fazer casar-se com seu colaborador, o caixeiro Luís Dias, rapaz promissor no comércio, mas que é assim descrito: “O Dias, que completava o pessoal da casa de Manuel Pescada, era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma idéia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre um corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa -- havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo -- enriquecer. Quanto à figura, repugnante: magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.”
A descrição, um dos momentos mais claramente naturalistas do romance, não deixa dúvidas quanto ao aspecto repugnante do caixeiro. As personagens caricaturais dominam o romance. O Realismo-naturalismo vai abusar das caricaturas para ressaltar o lado apodrecido das personagens e da sociedade retratada.
A IDEALIZAÇÃO ROMÂNTICA
A jovem Ana Rosa sonhava com um casamento romântico, “sonhava umas criancinhas louras, ternas, balbuciando tolices engraçadas e comovedoras, chamando-lhe ‘mama!’” E lembrava-se sempre do conselho que lhe dera a mãe ao leito de morte: “não consintas nunca que te casem, sem que ames deveras o homem a ti destinado para marido. Não te cases no ar! Lembra-te que o casamento deve ser sempre a conseqüência de duas inclinações irresistíveis. A gente deve casar porque ama, e não ter de amar porque casou. Se fizeres o que te digo, serás feliz!" Assim, Ana Rosa vai formando a imagem de um herói romântico que virá salvá-la da mediocridade da vida em São Luís do Maranhão.
É nesse ambiente que chega a São Luís o jovem advogado Raimundo, sobrinho há muito afastado de Manuel Pescada. Sua descrição em tudo contrasta com a de Luís Dias: “Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa. A parte mais característica da sua fisionomia era os olhos -- grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuis; pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido; as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz. Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos de pretensão; falava em voz baixa, distintamente sem armar ao efeito; vestia-se com seriedade e bom gosto; amava as artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política.”
Raimundo corresponde perfeitamente ao protótipo do herói romântico, pelo qual Ana Rosa tanto esperava. Sua descrição contrasta em tudo com a de Luís Dias. Ambos são, no entanto, personagens planas, superficiais, e servem apenas para que o autor prove sua tese anti-racista. EM BUSCA DO PASSADO ESCONDIDO
Raimundo saíra criança de São Luís para Lisboa. “Em toda a sua vida, sempre longe da pátria, entre povos diversos, cheia de impressões diferentes tomada de preocupações de estudos, jamais conseguira chegar a uma dedução lógica e satisfatória a respeito da sua procedência. Não sabiam ao certo quais eram as circunstâncias em que viera ao mundo, não sabia a quem devia agradecer a vida e os bens de que dispunha. Lembrava-se, no entanto de haver saído em pequeno do Brasil e podia jurar que nunca lhe faltara o necessário e até o supérfluo.” Esse jovem rico e virtuoso regressa a São Luís, depois de anos na Europa, formado e com o intuito de desvendar o mistério de seu passado. Antes, passara um ano no Rio de Janeiro e agora volta a São Luís para rever seu tio e protetor distante, Manuel Pescada.
Raimundo é bem recebido pela família do tio, com exceção da sogra de Manuel, a racista radical Dona Maria Bárbara. Estranha alguns olhares enviesados da população, mas imagina-os fruto do estranhamento causado por um forasteiro.
O sedutor advogado, como não poderia deixar de ser, logo cai nas graças de sua prima Ana Rosa que, arrebatada, declara-lhe seu amor. Raimundo corresponde à paixão da prima, mas os jovens encontram fortes obstáculos. Principalmente a oposição de Manuel Pescada, que queria a filha casada com Luís Dias, da avó Maria Bárbara, racista intransigente e do Cônego Diogo, velho amigo da casa e adversário não declarado e ardiloso de Raimundo. Acontece que, ao contrário dos amantes, seus três grandes opositores conheciam as raízes negras de Raimundo. Aos poucos o leitor vai tomando conhecimento das origens do herói, que, no entanto, permanece ignorando tudo.
O SEGREDO ENCOBERTO
Raimundo era filho do irmão de Manuel Pescada, José Pedro da Silva, com sua escrava negra Domingas. Depois de seu nascimento, José Pedro casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca e impiedosa. Enciumada com a atenção especial que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordenou que a negra fosse açoitada e que suas partes genitais fossem queimadas.
José Pedro, indignado com tamanha crueldade, leva o filho para a casa do irmão em São Luís. Voltando à fazenda, flagra a mulher e o então jovem e sedutor Padre Diogo em pleno adultério. Enfurecido, José Pedro mata Quitéria e forma um pacto de cumplicidade com o Padre Diogo: esconderão a culpa um do outro. Desgraçado e doente, José Pedro refugia-se na casa do irmão. Ao se restabelecer, resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é assassinado por ordem do Padre Diogo, que já começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
O DESFECHO
Obcecado por desvendar suas origens, Raimundo insiste em visitar a fazenda onde nascera. Após diversos adiamentos, seu tio finalmente o leva até a Fazenda São Brás. No caminho, o mulato começa a obter as primeiras informações sobre o passado trágico de seus pais. Ao pedir ao tio a mão de Ana Rosa em casamento, vê-se recusado. Perplexo, Raimundo acaba descobrindo que a recusa se deve a suas origens negras. Na fazenda, Raimundo é abordado, à noite, por uma velha negra de aspecto fantasmagórico, que o quer abraçar. Assustado, por pouco não mata a estranha aparição. No caminho de volta a São Luís, descobre que se tratava de sua mãe, Domingas.
Ao retornar à capital do Maranhão, Raimundo resolve voltar para o Rio de Janeiro. Não suporta mais viver com o tio e muda-se de sua casa, enquanto prepara-se para viajar. Pouco antes do embarque, manda uma carta a Ana Rosa confessando seu amor. O amor pela prima o impede de partir. Os amantes se encontram e Ana Rosa acaba engravidando. Contra tudo e contra todos, armam um plano de fuga. No entanto, o Cônego Diogo usa das confissões de Ana Rosa e da colaboração subserviente do caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal, para, ardilosamente, impedir a concretização da fuga.
No momento em que planejavam partir, os amantes são surpreendidos. O Cônego Diogo orquestra o escândalo e finge-se de protetor do casal. Raimundo volta para casa atordoado e, ao abrir a porta de casa, é atingido nas costas por um tiro disparado por Luís Dias, com uma pistola que lhe emprestara o Cônego Diogo.
Ana Rosa, desolada, aborta o filho de Raimundo. “A nova firma comercial, Silva e Dias, nasceu entretanto, no meio da mais completa prosperidade.”
Seis anos depois, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido Dias saindo de uma recepção oficial: "O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem torneada, com a pele limpa e a carne esperta. Ia toda se saracoteando muito preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos seus três filhinhos, que ficaram em casa a dormir.
- Grand'chaine, double, serré! berravam nas salas.
O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro, que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca. -- Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!..."
A ironia final, bem a gosto naturalista, coloca por terra toda a idealização romântica de Ana Rosa e Raimundo. Morto o primo, a prima acaba por se casar com seu assassino, e parece levar, ao lado do marido que tão ferozmente rejeitara anteriormente, uma feliz e próspera vida burguesa. O mal triunfa associado à igreja corrupta e ao comércio burguês.

VIDA E OBRA
“Um escravo da literatura”
Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu no dia 14 de abril de 1857, em São Luís do Maranhão. Sua mãe, dona Emília Amália Pinto de Magalhães, havia, corajosamente para a época, abandonado o primeiro marido, que a traía abertamente, e com quem fora obrigada a se casar aos 17 anos, por imposição familiar. Vivendo com o comerciante e representante consular português David Gonçalves de Azevedo, teve cinco filhos, dos quais Artur de Azevedo, o teatrólogo, foi o primeiro e Aluísio Azevedo, o segundo.
No século XIX, São Luís do Maranhão era um centro de convergência de capital e de mão-de-obra escrava, graças à economia do algodão. Tornou-se, assim, um pólo de prosperidade econômica e cultural. Porém, a cidade era bastante conservadora e dona Emília causou um grande escândalo por viver com o pai de Aluísio sem a aprovação da Igreja.
Desde criança, Aluísio Azevedo demonstrava habilidades artísticas, principalmente no desenho. Por isso, a família matriculou-o em um curso de artes plásticas. Animado pelo sucesso que seu irmão Artur Azevedo estava fazendo na corte, Aluísio, aos 19 anos, resolve ir para o Rio de Janeiro. A corte era, na época, o centro das idéias liberais e em todo lugar se discutiam o abolicionismo e a causa republicana. Durante dois anos, Aluísio foi caricaturista de jornais como O Mequetrefe, Fígaro e Zig-Zag. Suas charges já faziam bastante sucesso junto ao público quando foi obrigado a retornar para São Luís devido à morte do seu pai, em 1878.
Em São Luís, passa a produzir crônica e comentários para a imprensa local e conclui um romance que iniciara no Rio de Janeiro, com o título de Uma Lágrima de Mulher. O livro foi escrito em um estilo romântico bastante piegas, no entanto muito elogiado por seus conterrâneos. Ajuda, também, a lançar um periódico anticlerical, O Pensador e entra em contato com as obras de Eça de Queirós: O Crime do Padre Amaro (1875) e O Primo Basílio (1878). Mas não são suas charges, crônicas ou seu primeiro romance que vão produzir novo escândalo na cidade e lhe dar renome nacional, mas, sim, a publicação, em 1881, do romance O Mulato, baseado na vida e nos costumes da sociedade maranhense.
O Mulato, primeiro romance naturalista da Literatura brasileira, causou tanto furor que obrigou o autor a deixar São Luís e a se instalar novamente na corte. A indignação foi tanta que uma revista da época, porta-voz do clero conservador, mandou o escritor abandonar a Literatura e dedicar-se à agricultura: “À lavoura, meu estúpido! À lavoura! Precisamos de braços e não de prosas em romances! Isto sim é real. A agricultura felicita os indivíduos e enriquece os povos! à foice! e à enxada!”.
No entanto, no resto do país, a obra fez bastante sucesso e, com o dinheiro obtido com a venda de 2 mil exemplares do livro, Aluísio retornou ao Rio de Janeiro. Na corte, graças à fama conquistada, Aluísio Azevedo passa a colaborar para os jornais, atividade que desenvolve intensamente por muito tempo. Mesmo reclamando de ser “um escravo das Letras”, pois o dinheiro que ganhava tanto com a Imprensa quanto com a Literatura dava apenas para “não morrer de fome”, Aluísio construiu, nesse período, uma sólida carreira literária, publicando obras importantes, como Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890). Foi, assim, o primeiro escritor brasileiro a viver exclusivamente de seu ofício. Para isso, produziu romances de folhetim ao gosto romântico, obras que considerava “comerciais”, e romances naturalistas, obras que considerava “artísticas”.
Em 1896, tornou-se cônsul através de concurso e abandonou a vida de escritor. Na sua nova profissão, serviu em Vigo e Nápoles (Itália), depois no Japão e, finalmente, em Buenos Aires (Argentina), onde faleceu em 1913. Estava com 55 anos e morreu ao lado da amante Pastora Luquez, argentina com quem vivera seus últimos dez anos. Durante os dezoito anos de serviço diplomático, não mais escreveu ou publicou livro algum, nem gostava que lhe mencionassem a sua antiga carreira de romancista, que o tornara tão famoso e, celebrado.
Além de romances, Aluísio de Azevedo deixou publicados contos e peças de teatro, em colaboração.
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Pretiando por ai...

Eu gosto do impossível,
tenho medo do provável,
dou risada do ridículo e choro porque tenho vontade,
mas nem sempre tenho motivo.
Tenho um sorriso confiante que as vezes não demonstra o tanto de insegurança por trás dele.

Sou inconstante e talvez imprevisível.
Não gosto de rotina.

Eu amo de verdade aqueles pra quem eu digo isso,
e me irrito de forma inexplicável quando não botam fé nas minhas palavras.
Nem sempre coloco em prática aquilo que eu julgo certo.
São poucas as pessoas pra quem eu me explico...

Bob Marley