terça-feira, 8 de março de 2011

Memórias de um Sargento de Milícias Manoel Antônio de Almeida
A obra está, constantemente, na lista de livros indicados para o vestibular. Trata-se de um romance de costumes que aborda certo período de nossa história e foi escrito em um momento no qual se discutia no Brasil o fim da escravidão e a Europa vivia tempos de revoluções.
Aventuras e desventuras de um futuro sargento
O “Sargento de Milícias” é um romance histórico. Embora a concepção pertença à fantasia, emparelha-se no decorrer dos acontecimentos uma linha de personagens que são domínio da história. Foi publicado esparsamente em folhetins durante os anos de 1852 e 1853, com o pseudônimo de “Um Brasileiro”.
Embora escrito em pleno Romantismo, distancia-se do que usualmente foi taxado de romance romântico, já que a dinamicidade das cenas retratadas e a forma de focalizar as personagens tornam Memórias de um Sargento de Milícias uma espécie de romance picaresco. Por outro lado, é considerado por alguns críticos um dos precursores do Realismo devido à maneira direta de focalizar os acontecimentos das camadas populares do Rio de Janeiro.
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, é um romance de costume que aborda certo período de nossa história e uma obra que se destaca do contexto literário romântico brasileiro.
Escrito em um momento em que se discutia no Brasil o fim da escravidão e em que a Europa vivia um tempo de revoluções. Foi publicado pela primeira vez em folhetins anônimos no suplemento de domingo do “Correio Mercantil”, denominado “A Pacotilha”, de junho de 1852 até julho de 1853, depois organizado em dois volumes, um em dezembro de 1854 com 23 capítulos, outro em janeiro de 1855 com 25 capítulos.
Esse romance sofre o silêncio da crítica.
A primeira justificativa para tal atitude está no fato de sua narrativa não apresentar elementos que atendam ao gosto do público burguês da época, não só no tom, que é escrachado, irônico, mas também na história apresentada e no tipo de personagem que a interpreta.A obra retrata, de forma satírica e crítica, a vida da sociedade carioca do início do século XIX, momento marcado política, social e culturalmente pela regência de D. João VI. Ao escolher como centro da narrativa uma família proveniente das camadas socialmente menos favorecidas, Manuel Antônio de Almeida expõe não só as características da vida cotidiana dos personagens que circulam nesse espaço, seus conflitos e dramas, mas também destaca as relações de parentesco e vizinhança; o funcionamento de instituições sociais como a igreja, a escola, a segurança pública. Com isso, o autor traça um quadro divertido da época que retrata.
Manuel Antônio de Almeida pretendia narrar tão-somente à acidentada vida de uma criança nascida no começo do século XIX, mas acaba por fazer uma esplêndida reconstituição da época e do modo de vida das camadas suburbanas do Rio de Janeiro à época de D. João VI, “no tempo do rei”.
Aliando bom humor ao realismo das caracterizações, o autor conta, em forma de novela, uma série de histórias tendo como elo o personagem Leonardo, malandro, traquinas com ares de anti-herói.
A mola mestra do livro é o movimento: a um acontecimento segue outro e mais outro e só pára quando não são mais possíveis as peripécias do protagonista.Ao lado de Leonardo, surgem personagens como Leonardo-Pataca (o pai),Maria-da-Hortaliça (a mãe), o padrinho, a madrinha, o major Vidigal e uma galeria de outros personagens que contribuem para dar ao livro uma visão de uma sociedade em formação em que se focam dois universos: o da ordem (a ser instaurado nas camadas populares) e o da desordem (o dinâmico e bem-humorado mundo da malandragem).
As histórias dos Leonardos – pai e filho – são o fio condutor da obra que se inicia com as aventuras e desventuras de Leonardo Pataca. Desprezado pela mulher, esse personagem abandona o filho após um forte pontapé e passa a dividir com ele a narrativa. O novo protagonista, o filho Leonardo, ao ser abandonado pelo pai, inicia uma saga de agressões, perdas e vinganças que lhe garantem o desafeto de muitos, na verdade de quase todos os demais personagens. Apenas o padrinho - um barbeiro de origem desconhecida -, que assumiu a sua guarda, ignora as diabruras do menino e vislumbra para ele um futuro seguro, digno, diferente da vida que ele mesmo leva cotidianamente à frente da barbearia. O padrinho pretendia tornar o afilhado padre.
Leonardo, entretanto, traçava planos diferentes daqueles sonhados pelo padrinho. Resistiu à escola, debochou do trabalho, levou a vida a procurar pequenas oportunidades para provocar desarranjos em tudo o que via e por onde passava.
Essa história conturbada é acompanhada pela madrinha, a comadre, senhora ocupada em ajudar os vizinhos e acompanhar religiosamente os eventos cristãos, bastante numerosos naquela época. Além disso, a comadre era parteira.
Esses ofícios faziam dela também mensageira de tudo quanto ocorria nas proximidades. Por isso, alinhavava, sempre que necessário histórias daqui e, de acolá.
A vida de Leonardo é uma sucessão de diabruras, até o momento em que ele se apaixona por Luisinha, afilhada de D. Maria, mulher rica, sempre envolvida em demandas judiciais. Desse momento em diante, o rapaz passa há dedicar seus dias e pensamentos ao objeto de sua paixão. No entanto, surge no meio desse romance um pretendente mais promissor que Leonardo, já que ele nem sequer tinha dado qualquer rumo para sua vida. José Manuel, que se encantara pelo dote herdado por Luisinha, passa a representar um perigo para o futuro que o padrinho vislumbrara para o afilhado. E o enamorado se vê, então, em uma armadilha.O costume com uma vida confusa, sem grandes projetos, e seu caráter pouco firme fazem com que Leonardo se enrede em outra situação complicada. Na tentativa de esquecer a dor de não ser o preferido por sua amada, ele se apaixona por outra mulher, Vidinha, já cobiçada por dois primos. Inicia-se, assim, uma nova empreitada para o personagem que, repetindo a vida amorosa acidentada do pai, vive de novo situações constrangedoras e irônicas. Ao se dar por vencido na disputa pela nova amada, o rapaz se mete em mais uma arapuca que o leva à prisão, exatamente como acontecera com o pai.
Vidigal, o responsável pela polícia, curva-se aos desejos de sua amada e não apenas liberta Leonardo, como o nomeia granadeiro de seu batalhão. Depois de muitas diabruras, o rapaz reencontra seu primeiro amor, Luisinha, agora viúva, e ambos decidem finalmente viver o amor do qual se privaram.
Para se casar, no entanto, Leonardo precisa desligar-se de seu cargo, o que consegue a custa de favores da amante de Vidigal, e ganha à nomeação para Sargento de Milícias.
Enquanto isso, Leonardo Pataca, o pai, vive igualmente aventuras e desventuras amorosas que em geral terminam em agressões ou atitudes desesperadas, como a tentativa de conquistar a mulher amada por meio de feitiços, o que lhe rende passagem pela cadeia.É interessante observar que diversos personagens da trama são referidos pela profissão que exercem e não têm um nome próprio: o barbeiro, a parteira, a cigana, o mestre-de-cerimônias. Essa estratégia narrativa tipifica grupos sociais que integram as cenas vividas pelos personagens centrais. A cada episódio, o leitor recebe informações a respeito da época em que os fatos aconteceram. O livro preserva em sua estrutura o caráter de folhetim: cada capítulo encerra-se em si mesmo, mas deixa uma ponta para o episódio seguinte. Os eixos dos capítulos são as aventuras, quase sempre amorosas, de um dos Leonardos. A narrativa é bem-humorada, leve e instigante e, ao mesmo tempo, informativa e densa. Essa obra nos conduz a um passeio pela vida carioca do início do século XIX, mesmo que a linguagem possa apresentar alguma dificuldade, uma vez que o autor utiliza o português coloquial de sua época, o que pode provocar algum estranhamento aos leitores de hoje.Não se trata de obra sentimentalista. Ao contrário, sua leitura nos faz recordar as peças de Martins Pena pelo tom satírico, pela movimentação dos personagens que entram e saem de cena. O texto nos remete também a Machado de Assis, em suas “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, quando o narrador dirige-se com certa freqüência ao leitor, para instigar-lhe a atenção e fornecer dados para que possa continuar acompanhando o desenvolvimento da história.
Finalizando....
O enredo acima é elemento suficiente para mostrar o caráter sui generis da obra. Não há aqui a visão idealizada da realidade, mas uma inversão escrachada desses padrões. No lugar de heróis perfeitos, há anti-heróis, como Leonardo, que é vadio, e Luisinha, que é destituída de beleza e força de caráter.
Tais elementos fazem com que alguns considerem a obra uma antecipação do Realismo, o que constitui um exagero, pois falta aqui o cientificismo, além da visão pessimista da existência humana.
Aliás, a classificação desse romance é um tanto problemática. Se ao menos enxergar nela uma antecipação do Realismo é inadequado, é também impróprio considerá-lo um romance de costumes, em especial os do Rio de Janeiro do início do século XIX. Seria argumento favorável a essa classificação o expediente comum de quase todos os capítulos iniciarem-se com a descrição de um costume, como a festa dos ciganos, a procissão dos ourives, o desfile das baianas. Outro argumento seria a pobreza de nomes, o que faria suas personagens tornou-se tipos, ou seja, representantes das diferentes classes sociais fluminenses da época (o Barbeiro, o Mestre de Cerimônias, o Tenente-Coronel, o Mestre de Rezas).
No entanto, há como derrubar tal tese lembrando que esse simples fato pode ser na realidade creditado à fidelidade ao comportamento das classes baixas. Outro contra-argumento é a ausência na obra de muitos costumes da época.
Pode-se lembrar, também, que Memória de um Sargento de Milícias seria um romance picaresco. É, porém, outra classificação problemática, pois esse termo refere-se a um tipo de narrativa espanhola que apresentava personagens dos baixos estratos sociais e que praticavam crimes para driblar as dificuldades, principalmente fome. Não se deve esquecer que Leonardo não é um autêntico pícaro, pois está fixo ao Rio de Janeiro, não passa por dificuldades, nem sequer é personagem carregada de malignidade.
Se aceita, no entanto, tal rótulo se adaptar a ele a idéia de malandragem. Assim, Leonardo
seria o representante do malandro carioca. Até essa identificação merece ressalva, pois suas características não se prendem ao Rio de Janeiro, podendo ser encontradas em várias partes do país.
Aceitando-se tais restrições, percebe-se que a obra cumpre um postulado romântico ao exibir um tipo brasileiro, apesar de bem diferente do índio, do sertanejo ou do burguês dos outros romances contemporâneos.
Na realidade, para compreender Memórias de um Sargento de Milícias, deve-se aceitar todos essas classificações com cuidado e buscar outro aspecto marcante: a capacidade de descrever formas de comportamento social que espantosamente ainda são comuns hoje. O primeiro deles está nas constantes relações de apadrinhamento. As leis são sempre rígidas, mas com uma relação subterrânea, com os contatos certos, muito se consegue. Basta lembrar como a Comadre arranja emprego para Leonardinho, a possibilidade de D. Maria também lhe arranjar um emprego de rábula em algum cartório e até a maneira como Leonardo Pataca sai da prisão graças ao Tenente-Coronel.
O outro aspecto está na confusão fácil que se faz entre Ordem e Desordem. Basta lembrar em que condições o Mestre de Cerimônias foi preso (de roupa íntima), ou mesmo como Major Vidigal recebeu as três advogadas do protagonista – meio formal (farda), meio informal (camisolão e tamancos). Mas o principal exemplo disso seria Vidigal, representante da ordem, ceder a impulsos carnais e (passando para a desordem) soltar Leonardinho, que, representante da desordem, é promovido a sargento de milícias (passando para a ordem).
Nascido no Rio de Janeiro em 1831, Manuel Antônio de Almeida teve existência meteórica, pois morre tragicamente, em 1861, com apenas 30 anos de idade, vitimado por um naufrágio na costa fluminense, ao viajar num vapor com destino a Canipós, no Estado do Rio.
Fontes
Neide Aparecida de Almeida - Equipe EducaRede
http://www.educarede.org.br/educa/html/index_biblioteca.cfmhttp://www.lol.pro.br

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Pretiando por ai...

Eu gosto do impossível,
tenho medo do provável,
dou risada do ridículo e choro porque tenho vontade,
mas nem sempre tenho motivo.
Tenho um sorriso confiante que as vezes não demonstra o tanto de insegurança por trás dele.

Sou inconstante e talvez imprevisível.
Não gosto de rotina.

Eu amo de verdade aqueles pra quem eu digo isso,
e me irrito de forma inexplicável quando não botam fé nas minhas palavras.
Nem sempre coloco em prática aquilo que eu julgo certo.
São poucas as pessoas pra quem eu me explico...

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